Cirurgia refrativa é sempre garantida e sem riscos?
- Flávio Germano
- há 4 dias
- 4 min de leitura
Saiba tudo que pode acontecer com seus olhos no procedimento de correção de grau de óculos
Cirurgia Refrativa – Termo Informativo Institucional
FEMTO-LASIK e Trans PRK: Expectativas, Riscos, Complicações e “Dissabores”
Esta comunicação é informativa e preventiva. A cirurgia refrativa visa reduzir a dependência de óculos/lentes de contato para miopia, hipermetropia e/ou astigmatismo. Embora consagrada, envolve variáveis individuais que impactam conforto, recuperação e resultado. Não há garantia de grau final, independência total de óculos ou ausência de sintomas.
O que a cirurgia faz e o que não faz
Substitui parte do poder refrativo do sistema ocular por uma ablação corneana a laser (com ou sem flap).
Não trata patologias retinianas ou do nervo óptico, nem garante visão “perfeita” em todas as condições de luz.
Pode permanecer ametropia residual (“sobra de grau”), necessitando óculos, lentes de contato ou retoque.
A visão noturna e o contraste podem se modificar, com possível percepção de halos e glare.
Técnicas e diferenças práticas
FEMTO-LASIK: criação de um flap corneano com laser de femtosegundo e ablação no estroma subjacente; recuperação visual rápida, desconforto inicial discreto; maior atenção a eventos relacionados ao flap e interface.
Trans PRK: ablação de superfície sem flap; preserva a biomecânica superficial; recuperação visual e conforto mais lentos, com dor/ardor nos primeiros dias; risco de haze em casos selecionados.
Sintomas esperados e “dissabores” comuns
Olho seco ou piora de sintomas prévios (ardor, sensação de areia/“olho raspando”, flutuação visual).
Visão embaçada e variações ao longo do dia nas primeiras semanas.
Halos, glare, starbursts e redução de contraste, especialmente em baixa iluminação.
Fotofobia transitória, lacrimejamento, hiperemia, corpo estranho.
Na Trans PRK, dor/ardor nos primeiros dias e visão útil mais tardia; necessidade de lente de contato terapêutica temporária.
Nota: a intensidade e duração variam conforme cicatrização, filme lacrimal e parâmetros oculares individuais.
Complicações específicas por técnica
FEMTO-LASIK (relacionadas ao flap e interface)
Descentramento ou irregularidade do flap, flap fino/espesso, “buttonhole”.
Estrias do flap, micro/macro dobras com impacto visual, exigindo reposicionamento.
Ingrowth epitelial (crescimento de epitélio sob o flap), podendo requerer limpeza.
DLK (queratite lamelar difusa) – inflamação da interface; demanda tratamento intensivo.
Debris/partículas na interface, edema, inflamação.
Traumatismo tardio com deslocamento do flap (mesmo anos depois), se houver impacto ocular significativo.
Trans PRK (superfície)
Dor inicial e desconforto mais pronunciados.
Erosão epitelial, epitelização tardia, filamentos; risco de infecção até a completa cicatrização.
Haze corneano (opacificação subepitelial), geralmente manejável; raramente impacta acuidade de forma persistente.
Regressão do efeito refrativo em graus mais altos.
Complicações/risco comuns às duas técnicas
Ametropia residual (miopia/hipermetropia/astigmatismo), anisometropia e necessidade de retoque, óculos ou lentes.
Aberrações ópticas de alta ordem, disfotopsias (halos, glare), piora da visão noturna.
Olho seco persistente, dor/hipersensibilidade e, raramente, dor neuropática corneana.
Descentramento de ablação ou ablação irregular, com redução de qualidade visual.
Infecção corneana (ceratite) – rara, porém potencialmente grave.
Ectasia corneana (afinamento/instabilidade biomecânica progressiva), mais provável em córneas predispostas; pode requerer crosslinking e/ou outras intervenções.
Cicatrização anômala com opacidades e irregularidades.
Fotofobia persistente, hipersensibilidade ao vento/ar-condicionado.
Pressão intraocular elevada associada a corticoide (respondedor esteroidal), exigindo ajuste terapêutico.
Fatores que aumentam risco ou influenciam resultado
Córnea fina/assimétrica, suspeita de ceratocone/forme fruste, topografia irregular, paquimetria limítrofe.
Refração instável, graus muito elevados, pupilas grandes em baixa luz.
Doença de superfície ocular (olho seco, MGD/blefarite), alergia ocular, uso crônico de telas.
Doenças sistêmicas/autoimunes, diabetes descompensado, colagenoses, uso de certas medicações.
Gravidez e lactação (variações hormonais), história de herpes ocular, hábitos de coçar os olhos.
Cirurgias oculares prévias, traumas, exposição ocupacional a poeira/sol.
Avaliação pré-operatória e critérios de indicação
Exames de biomecânica corneana, topografia/tomografia, paquimetria, análise do filme lacrimal e refração repetida.
Simulação e estimativa de leito residual para segurança biomecânica.
Tratamento prévio de doença de superfície quando presente.
Indicação individualizada da técnica (FEMTO-LASIK vs Trans PRK) conforme risco, espessura e perfil de vida.
Condutas e possibilidades adicionais
Retoque refrativo (quando seguro e indicado) para ametropia residual/regressão.
Crosslinking corneano em casos selecionados (ectasia/risco biomecânico).
Lentes de contato terapêuticas no pós-operatório de Trans PRK.
Ajustes de lubrificantes, anti-inflamatórios, antibióticos e antialérgicos conforme evolução.
Terapia para olho seco (higiene palpebral, MGD, tampões/lágrima, regimes específicos).
Cuidados e orientações pós-operatórias
Não coçar/esfregar os olhos; proteger contra trauma, poeira e água contaminada.
Usar colírios conforme prescrição, comparecer às revisões e comunicar dor intensa, queda súbita da visão, secreção, piora acentuada de fotofobia ou sensação de sombra/“cortina”.
Moderar telas/ar-condicionado no início; usar óculos escuros ao sol.
Em FEMTO-LASIK, atenção redobrada ao trauma no período inicial do flap; em Trans PRK, respeitar o tempo de cicatrização epitelial.
Limites, expectativas realistas e declarações de ciência
Resultados variam conforme anatomia, cicatrização, tear film e hábitos individuais.
Pode haver sobra de grau, halos/glare, redução de contraste e necessidade de óculos em atividades específicas (dirigir à noite, leitura prolongada).
Nem todo caso é candidato a retoque; segurança biomecânica prevalece sobre a busca por “grau zero”.
O objetivo é benefício clínico proporcional com segurança e prudência técnica, sem promessa de resultado específico.
Recomendamos a leitura atenta do Termo de Consentimento Específico (FEMTO-LASIK e/ou Trans PRK) e o esclarecimento de dúvidas em consulta. A decisão final é individualizada e pautada por critérios de segurança, ética e qualidade assistencial.