Sete em cada dez brasileiros reclamam de estresse no trabalho. Metas para cumprir, horários para seguir e multi-tarefas para executar. É tanta cobrança e acúmulo de responsabilidades que pode desencadear a "síndrome da exaustão". Os olhos também são afetados de diversas maneiras sobre vários mecanismos que comprometem a visão e a qualidade de vida.
São 10 artigos científicos clássicos (alguns recentes) que selecionei para discutir algumas doenças oculares cujo stress é um forte gatilho.
Veja também as dicas para levar uma vida mais leve, equilibrada: estilo de vida saudável repercute em olhos saudáveis!
Glaucoma
O glaucoma é uma neuropatia óptica crônica de origem multifatorial, mas que eventualmente o estresse pode desencadear o fechamento angular com dificuldade da drenagem do humor aquoso e levar à crise aguda de glaucoma com Pressões Intra-oculares elevadas (acima de 40 mmHg). Existem alguns trabalhos científicos que demonstram a relação entre situações de estresse e aumento da pressão intra-ocular: 1) Em 1999, Brody S. concluiu a Pressão Intra-Ocular (PIO) aumenta em 1.3 mmHg após cálculos aritméticos complexos (1); 2) Em 2013, Mansouri K descreveram redução significativa da pressão intra-ocular após atividade sexual e orgasmo (2); 3) Em 2018, Méndez-Ulrich observou que um grupo de pessoas consideradas “nervosas” apresentavam uma média de PIO 2,3mmHg maior que o grupo de pessoas consideradas “calmas”(3). 4) Outro estudo interessante com 6.700 pessoas nos EUA procurou associar alterações do sono com glaucoma e chegaram a alguns resultados (4): a) Pessoas que dormiam mais de 10 horas ou menos que 3 horas por dia tiveram 3 vezes mais chance de apresentar danos no Nervo Óptico em comparação às pessoas que dormiam 7 horas por noite; b) Pessoas que pegavam no sono em menos de 9 minutos ou que precisavam de 30 minutos ou mais para cair no sono tiveram o dobro de chance de ter glaucoma em comparação com pessoas que dormiam entre 10-29 minutos; c) pessoas que tinham dificuldade em realizar atividades cotidianas devido por estarem sonolentas durante o dia tiveram 3 vezes mais risco de ter perda de visão em comparação com pessoas que relataram não ter sono durante o dia. 5) Outro trabalho realizado em ratos demonstro que stress por imobilização por uma hora aumentou a Pressão Intra-Ocular em cerca de 25% em comparação com o grupo controle que não foi imobilizado. Além disso, níveis séricos de cortisol, adrenalina e noradrenalina foram estatisticamente significantes e maiores no grupo de ratos imobilizados e aferidos 1 minuto, 60 minutos e 120 minutos após a imobilização, indicando associação entre PIO e cortisol (5).
Episclerite
Episclerite é uma inflamação autolimitada, recorrente e em geral idiopática da episclera (um dos tecidos que revestem o globo ocular) e que não ameaça a visão, mas causa dor, vermelhidão e desconforto ocular, e cerca de 30% dos casos há alguma doença de base (geralmente quando há recorrência das crises). Em 1984, Margo descreveu um caso clínico de um médico de 32 anos de idade sabidamente estressado com quadro de episclerite recorrente. No trabalho publicado há um comentário interessante sobre outras condições dermatológicas que se manifestam após episódios de estresse, como alopécia areata, eczema e disidrose. (6)
Herpes simples ocular
Embora o maior trabalho científico sobre Herpes (Estudo HEDS [7]) concluiu que não há associação entre stress e recorrência de herpes simples ocular, na prática e estudos recentes demonstram que há uma correlação forte entre eles. Em 2005, Danna et all estudaram a conexão entre o vírus Herpes Simples tipo I e as proteínas (SAPKs) p38 e JNK (8). JNK (c-Jun N-terminal cinase) é uma proteína que atua na regulação do processo de auto-destruição celular – respondem a estímulos de estresse e que atualmente também estão relacionadas com importantes mediadores da obesidade. E SAPKs significa “Stress-activated protein kinases” também relacionadas a inflamação celular e obesidade. Novos estudos estão em andamento para confirmar que a ativação da via JNK é crucial para reativar o vírus da herpes simples, o que poderia desencadear estudos para lançar tratamentos eficazes capazes de bloquear essa via.
Coriorretinopatia Serosa Central
A coriorretinopatia serosa central (CSC) foi identificada e descrita pela primeira vez em 1866 por von Graefe, que se referiu à doença como "retinite central recorrente".(9) É uma doença ocular comum caracterizada pela descompensação do epitélio pigmentar da retina (EPR), que resulta em descolamento neurossensorial da retina, descolamento seroso do epitélio pigmentar da retina (EPR) e atrofia. Geralmente é unilateral e afeta predominantemente adultos jovens ou de meia-idade (25 a 50 anos), sendo os homens afetados com mais frequência do que as mulheres. Em 1986, Yannuzzi fez a relação entre Serosa Central em pacientes com personalidade tipo “A” (isto é, pessoa com 3 características fortes: competitividade, senso de urgência e hostilidade)[10]. Outros estudos mostram ligação entre Serosa Central em pacientes com forte impulsão e instabilidade emocional e mais recente em personalidades narcisista.
Dicas preciosas para preservar a saúde psíquica e ocular
1.Tire um tempo para você Procure fazer pausas para respirar fundo e durante essa pausa, pense em coisas que te tragam energia e sensações de felicidade. Precisamos buscar um equilíbrio entre as responsabilidades inerentes do século XXI com atividades de descanso e lazer 2.Cuide bem do seu corpo Você sabia que uma hora para atividades físicas ou de meditação representa 4,1% do seu dia? Aproveite esses minutos para ajudar seu corpo a liberar substâncias do prazer (endorfina) e aumentar nosso reservatório do energia (mitocôndria) para ter mais disposição no dia-a-dia. 3.Melhore a qualidade do sono Desligue a TV e outros eletrônicos ao deitar-se. Durma apenas o tempo necessário para ficar descansado e evite bebidas estimulantes como café, chá preto, chá mate depois das 17:00 horas. 4.Alimentação saudável é a base para a saúde Diversas doenças oculares estão relacionadas com alimentos gordurosos e ricos em carboidratos. Cerca de 40% dos pacientes com diabetes apresentam algum grau de retinopatia diabética, que pode levar a perda de visão em casos mais avançados. 5.Consulte seu médico oftalmologista regularmente Várias doenças podem ser tratadas de maneira mais tranquila se diagnosticadas precocemente.